fernando pessoa
Quantas pessoas cabem em Pessoa? Por muito que se estude o mais universal dos nossos poetas, nunca saberemos verdadeiramente quantas pessoas nele viveram. Foram mais do que a História consegue contar, muitas n’A Brasileira.
fernando pessoa
Fernando António Nogueira Pessoa nasceu a 13 de junho de 1888, em Lisboa. O falecimento precoce do pai, quando Fernando Pessoa tinha apenas 5 anos, fez dele uma personalidade tímida, refugiada na sua imaginação e genialidade. Com 7 anos viajou para Durban, na África do Sul, onde viveu 9 anos com a família e regressou a Portugal em 1905, no ano em que A Brasileira do Chiado se instalara naquele bairro histórico.
Ao longo da sua vida transfigurou-se em múltiplas identidades, escapando através delas da vida quotidiana. Na sua poesia o génio, que era muitos, desdobrou-se em mais de uma centena de pseudónimos e alter-egos com ocupações tão distintas quanto um tradutor, um escritor, um ensaísta, um filósofo, um médico, um astrólogo e até um frade, cada um deles com uma visão ideológica própria e muito distinta. Apesar de se ter fragmentado em muitas personalidades literárias pautadas pela ficção – que viriam a enriquecer o seu legado literário, a heteronímia é o grande marco da sua obra. Dotados de biografia, o poeta justificava os seus três heterónimos como “um traço de histeria que existe em mim. (…) A origem mental dos meus heterónimos está na minha tendência orgânica e constante para a despersonalização e para a simulação”.
Fernando Pessoa, que tinha o desejo de ser extraordinário, morreu a 30 de Novembro de 1935, aos 47 anos, na mesma cidade onde nasceu. Grande parte da sua obra só foi conhecida depois da sua morte, quando se abriu a famosa arca de madeira, brindando o mundo com tesouros literários de riqueza incalculável.
o vínculo à brasileira do chiado
Cenário de tertúlias intelectuais, artísticas e literárias, a Brasileira do Chiado foi sempre um espaço privilegiado onde os ilustres gostavam – e gostam – de se reunir. A assiduidade de Fernando Pessoa, que fazia d’A Brasileira a sua casa e onde tanto gostava de se inspirar para mais um poema e de se deliciar com um Bife à Café, motivou a inauguração, em 1988 – por ocasião do centenário do seu nascimento, da sua estátua em bronze, uma das mais fotografadas de Lisboa.
N’A Brasileira, Fernando Pessoa continua a alargar as fronteiras da sua obra a partir do lugar onde criou tantos, e tão marcantes, poemas. Orgulhosamente português, o poeta que silenciosamente nos ocupa a esplanada terá na Brasileira do Chiado, para sempre, o seu lugar cativo, como mais ninguém.
óculos de uso pessoal
Os óculos que Fernando Pessoa usou para escrever a obra Mensagem, adquiridos em leilão à família do poeta, estão em exposição n’A Brasileira do Chiado para que os seus muitos admiradores os possam contemplar e através deles viajar às primeiras décadas do século XX no embalo da língua portuguesa, a pátria de Pessoa.
“Dá-me os óculos…” – murmurou Fernando Pessoa, semicerrando os olhos enevoados. Foram estas as últimas palavras do poeta, que partiu a 30 de Novembro de 1935, aos 47 anos.
mensagem
Mensagem é um livro de 44 poemas de Fernando Pessoa– de que aqui expomos uma rara primeira edição de 1934 – e a única obra que o poeta publicou em português, em vida. Este tesouro literário retrata o glorioso passado de Portugal, tentando encontrar um sentido para a grandiosidade dos feitos portugueses da época dos Descobrimentos, glorificando o seu valor simbólico e acreditando que o revivalismo das suas palavras traria à nação o esplendor de outrora.
Pela magnitude e relevância desta obra, A Brasileira publicou a obra Mensagem em edições bilingue: português, inglês, francês, espanhol, italiano e mandarim, à venda exclusivamente no Café.
revista orpheu
Criada em 1915 nas mesas d’A Brasileira do Chiado pela mão de Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros e Santa-Rita Pintor, a Revista Orpheu foi um rasgo de vanguardismo da literatura que chocou o Portugal da época e que inspirou novos movimentos literários e artísticos, pela sua linguagem ousada e uma linha poética disruptiva.
No dia do seu lançamento, Fernando Pessoa reportava: “Somos o assunto do dia em Lisboa / o escândalo é enorme”. A publicação enfureceu os conservadores da época, que a ridicularizaram nos jornais motivando a publicação do Manifesto Anti-Dantas, um ataque de Almada Negreiros a uma ideologia cultural que pretendia impedir a liberdade de criação de novas correntes estéticas em Portugal.